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Memórias de um Sonho na Estrada –
Parte 04

[Se você caiu aqui de paraquedas, leia os primeiros capítulos dessa história aqui.]

Às vezes a gente precisa dar um salto de fé, fazer aquilo que nosso coração pede e confiar que de alguma maneira, tudo vai dar certo. Eu estava aliviada por ter saído daquele escritório que só estava me sugando e feliz por poder fazer meu curso de yoga. Ainda assim eu estava preocupada em como eu iria pagar as contas agora que estava desempregada.

Mas olha só como as coisas são. Bem na mesma época que eu saí do escritório, a menina que estava trabalhando na videolocadora dos meus pais pediu demissão. Unindo o útil ao agradável, meu pai perguntou se eu queria voltar a trabalhar na loja. Eu estava resistente em voltar a trabalhar no shopping, mas sabia que aquela era uma oportunidade que tinha aparecido na hora certa. Aceitei. Apesar de tudo, trabalhar lá era bom porque como estávamos em família, eu tinha a liberdade de ler meus livros de yoga e estudar quando não tinha cliente. Além disso, estando lá eu tive outras duas oportunidades de fazer projetos de interiores para dois clientes da locadora. Às vezes a gente precisa dar um passo pra trás para poder dar dois pra frente.

No decorrer dos próximos meses eu e o David conversávamos cada vez mais sobre a grande mudança de vida que a gente tanto buscava. Tivemos a ideia de comprar uma kombi safari e sair viajando pelo Brasil. Tivemos a ideia de nos mudar pra Floripa só pra estar mais perto do mar. Ainda pensávamos sobre Portugal, mas a verdade é que estávamos tão perdidos que não sabíamos exatamente o que a gente queria. A única coisa que sabíamos é que precisávamos de uma mudança.

Até que no dia 06 de Maio eu recebi uma mensagem. Era o Daniel, o colombiano que conhecemos no Peru há quase 1 ano atrás! Ele nos disse que iria chegar em Curitiba daqui 1 mês e perguntou se poderia nos visitar. Estavam vindo ele e seus amigos Sebastian e Milena, além da cachorrinha Maracanã. Nós ficamos super felizes com a notícia e o mais legal de tudo é que agora tínhamos a nossa própria casa pra hospedá-los! O timing do universo é realmente perfeito. Começamos a contar os dias para receber nossos novos amigos. Quando eles chegaram foi a maior festa! Passamos uma semana inteira juntos e nós queríamos saber TUDO da viagem deles.

Ter eles na nossa casa nos permitiu conhecer mais da vida deles, do seu sonho e de como estavam conseguindo tornar tudo aquilo realidade. E aí o Daniel nos contou que eles compraram o tuktuk na Colombia e até tinham um dinheiro guardado para emergências, mas nunca realmente precisaram usar. Eles conseguiam bancar a viagem apenas vendendo as fotos como se fossem cartões postais para pagar a gasolina e comida, e no decorrer da viagem muitas pessoas convidavam eles pra ficar em suas casas, que é exatamente o que tinha acontecido com a gente. Ouvir aquela história de novo foi o combustível que precisávamos para reascender as esperanças do nosso sonho de viajar pelo mundo.

No fim de semana o Daniel disse que eles tinham sido convidados para jantar com um casal que também estava acompanhando a viagem deles, e o convite se estendeu para nós também. Chegamos lá e conhecemos a Ludi e o Matias e ali uma amizade nasceu instantaneamente. Nós descobrimos que tínhamos muitas coisas em comum com eles, mas principalmente a paixão por viajar. Mesmo depois de o Daniel já ter seguido viagem, nós continuamos em contato e ficamos cada vez mais próximos. Eles também tinham o sonho de fazer uma roadtrip pela América do Sul e 2 semanas depois eles nos convidaram para irmos juntos conhecer a Victoria Motorhomes, em Santa Catarina. Nós já tínhamos ouvido falar dessa empresa no livro Mundo Por Terra. O Mundo Por Terra é um casal brasileiro que deu uma volta ao mundo em uma Land Rover Defender, e quem transformou o carro deles em um motorhome foi o pessoal da Victoria Motorhomes. Por isso estávamos MUITO empolgados em ir até lá conhecê-los.

Foi a primeira vez na vida que entramos em um motorhome e nós ficamos simplesmente apaixonados! Eles tinham todo tipo de RV (sigla de “recreational vehicle”, que engloba motorhomes, trailers, campervans, etc.), desde ônibus enormes até kombis. No fim do dia, voltamos pra casa sonhando acordados em como seria viajar por esse mundão de carro. Mais ou menos 2 meses depois, eu acordei em um sábado de manhã e quando abri a janela do quarto eu vi lá em baixo na rua, estacionado bem na frente do nosso prédio, uma Land Rover Defender muito parecida com o carro do Mundo Por Terra. No livro “O Alquimista”, do Paulo Coelho, ele fala sobre os “omens”, ou presságios. São sinais do universo de que estamos no caminho certo ou de que algo esta por vir. Precisamos estar atentos e abertos a perceber esses sinais. Aquele carro, que ficou estacionado por pouquíssimo tempo na frente da nossa casa, era uma mensagem do universo dizendo “calma, seu sonho ainda não esta aqui, mas ele esta à caminho…”

A cada dia que passava o desejo de viajar ficava cada vez mais difícil de ignorar. Esse era o nosso assunto diário, quando acordávamos, quando íamos dormir… durante o dia, enquanto estávamos cada um no seu trabalho, passávamos o dia mandando mensagens um para o outro compartilhando blogs e histórias de viajantes que encontrávamos na internet. Ao mesmo tempo o David estava pesquisando kombis safaris pra comprar e até encontrou algumas em Curitiba, mas o valor delas era muito além do que podíamos pagar. Nós tínhamos dias e dias. Às vezes estávamos super empolgados com a ideia de viajar, mas muitas vezes tínhamos dúvidas, incertezas e medo de não conseguir realizar nosso sonho.

A essa altura nós já não estávamos mais pensando em ir pra Portugal. Nosso plano a longo prazo era dar uma volta ao mundo e para isso nós queríamos aprender inglês pra facilitar as coisas. Como cidadã da União Européia, nós poderíamos morar em qualquer lugar da Europa. Primeiro pensamos em Dublin, que é um dos destinos mais escolhidos pelos brasileiros. Um casal de amigos, a Ana e o André, moraram lá por um tempo e tinham acabado de voltar! Eles poderiam nos dar umas dicas e isso iria facilitar um monte. Mas Dublin é frio, e a gente tava querendo ir pra um lugar bem diferente de Curitiba. Descartamos Dublin. E aí pensamos em qual seria o local mais exótico e diferentão que poderíamos ir. Pensamos na Nova Zelândia! Lá é o paraíso dos esportes radicais, tem neve e praias ao mesmo tempo, animais que não existem em nenhum outro lugar do mundo… parecia ser exatamente o que estávamos procurando!

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