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Como foi conhecer a grande líder espiritual Amma

Essa história começa no dia em que fizemos 1 mês de estrada. Apesar de ser um dia de comemoração, eu não estava no meu melhor dia. Na verdade eu estava tendo um dia de cão e só queria que ele acabasse. Nós paramos na cidade de Wollongong para procurar um banheiro e caminhando pelas ruas charmosas do centrinho decidimos mudar essa frequência energética negativa e aproveitar o lugar que estávamos. Nunca mais voltaríamos ali e quisemos atentar o nosso olhar para a beleza daquela rua. Transformamos imediatamente um dia negativo em um fim de tarde com uma caminhada gostosa e ficamos curtindo o lugar. Passamos por um studio de yoga onde tinham umas revistas de graça na porta. Peguei uma, mas não li. Guardei no carro, onde ela ficou parada por vários dias.

cidade com praia na australia
Wollongong, cidade do estado de New South Wales, Austrália

Uma semana depois eu comecei a folhear a revista e me deparei com uma propaganda dizendo que a Amma estaria fazendo um tour pela Austrália nos próximos dias e vi que ela estaria em Melbourne bem no dia que estaríamos lá! Não pensei duas vezes, imediatamente decidi que iríamos ver a Amma. Mas antes de continuar essa história, vamos por partes:

Quem é a Amma?

Antes de começar a escrever esse parágrafo, quero dizer que eu não tenho total conhecimento para dizer quem é essa mulher incrível, por isso eu recomendo que se você quiser saber mais sobre ela, pesquise. Tem mais informações no próprio site dela e vários vídeos no Youtube também. Resumidamente, a Amma é uma grande líder espiritual que nasceu na Índia e mesmo sendo uma criança muito pobre, desde pequena sempre ajudava as pessoas mais carentes. Ela também sempre gostou de abraçar as pessoas e a medida que ela foi crescendo e ajudando cada vez mais os necessitados, ela foi ficando conhecida como “a santa do abraço”. Amma significa “mãe” e ela é vista como uma grande mãe de todos. Ela é uma grande humanitarista e o que mais me chamou atenção quando eu ouvi falar dela, é que ela é vista como um grande símbolo de amor e compaixão.

Por que eu decidi ir visitar a Amma

A quase 40 anos a Amma tem viajado por todo o mundo para abraçar pessoas. Seu abraço é visto como uma benção e centenas de pessoas vão a esses eventos gratuitos e muitas vezes esperam por várias horas até terem a sua vez de ganhar um abraço da Amma. O motivo de eu ter decidido ir é porque eu acredito que as coisas não acontecem por acaso. Não foi por acaso que eu peguei aquela revista e não foi por acaso que eu estaria em Melbourne no mesmo dia que a Amma. O que eu tinha a perder, afinal?

Chegando no evento

Era um sábado e o evento iria começar às 7 da noite. Para ganhar o abraço é preciso pegar uma senha e eu já tinha ouvido falar de pessoas que esperaram por mais de 5 horas para ganhar o abraço. O próprio site do evento dizia que os abraços seriam dados durante toda a noite, até de manhã. Eu definitivamente não queria ficar esperando a noite toda, por isso chegamos lá no que julgamos bem cedo, às 3:30 da tarde. E já tinham pessoas esperando na fila! Tinha gente do mundo todo e de todo tipo: casais, idosos, mães levando seus bebês para serem abraçados e crianças. Não tínhamos muito o que fazer, então ficamos só esperando. E esperando. E esperando. Às 5:30 começaram a entregar as senhas e pudemos entrar no lugar onde seria o evento. Continuamos esperando até às 7pm, quando a Amma finalmente chegou.

Centenas de pessoas no evento da Amma
Centenas de pessoas no evento da Amma

Eu já tinha ouvido falar que a presença da Amma é tão forte que é possível sentir a energia e o amor dela no ambiente, mesmo de longe. Devo dizer que eu fui com um pouco de expectativa com relação a isso, mas a verdade é que eu não senti nada. Isso me desapontou um pouco, mas mesmo assim eu estava de coração aberto. Quando ela chegou teve uma cerimônia bonita e ela começou a falar sobre alguns ensinamentos, mas a parte que eu mais gostei foi a meditação. Tinham cerca de mil pessoas lá e uma hora todos nós entoamos o mantra Lokah Samastah Sukhino Bhavantu (do sânscrito, significa Que todos os serem, em todos os lugares, sejam livres e felizes). Essa parte me deixou bastante emocionada. Depois dessa cerimônia, desse puja, ela começou com os abraços e nós esperamos ainda por mais algumas horas até a nossa vez.

A hora que eu desabei no choro

Esperando pela nossa vez, uma das voluntárias nos deu um folheto explicando que, se quiséssemos, poderíamos escolher ter a Amma como a nossa guru. Isso significa que teríamos que dar alguns dos nossos dados a ela, então ela nos daria um mantra, sopraria esse mantra no nosso ouvido e a partir daquele momento estaríamos criando um comprometimento em ter a Amma como guru e entoar esse mantra todos os dias, e ela estaria tomando a responsabilidade pela nossa jornada e crescimento espiritual. No momento em que eu li aquele folheto, algo tocou o meu coração e eu comecei a chorar.

Por um breve instante eu me lembrei de quando comecei a praticar yoga. A minha professora sempre falava no começo da aula para pensarmos em nosso sankalpa, a nossa intenção com aquela prática, e desde o começo a primeira coisa que me vinha à cabeça era que eu queria ter mais compaixão. Com o tempo de prática, durante o meu sankalpa começou a me vir a imagem de Kuan Yin, mestra da grande Fraternidade Branca e que esta associada ao amor e à compaixão. Em alguns momentos da minha vida eu tive experiências relacionadas a algo que simbolize amor e senti uma emoção muito forte, como da vez em que eu chorei abraçando um pedaço de quartzo rosa. Quando eu vi que poderia ter a Amma como guru e teria um mantra dado por ela, e sendo ela um grande símbolo de amor e compaixão, a emoção que eu senti foi a mesma e naquele momento, aquilo fez o maior sentido pra mim.

Como foi a hora do abraço, de fato

Estava chegando a minha vez e eu avisei uma das voluntárias que gostaria de receber o mantra. Quando chegou a minha vez tudo aconteceu muito rápido e eu achei aquele momento um tanto quanto perturbador. Eu não consigo me lembrar exatamente o que aconteceu, tudo o que eu lembro é de uma voluntaria segurando meu cabelo, outra segurando meu braço, outra me dando um cartão para pegar o meu mantra...a única coisa de que eu não consigo me lembrar, é como foi a sensação de ter sido abraçada pela Amma. Aquilo me deixou um pouco triste. Era pra ter sido um momento muito especial, mas foi tudo tão rápido para que a próxima pessoa pudesse vir para ganhar o abraço que eu mal consigo me lembrar do que aconteceu.

Saindo dali fui encaminhada para um lugar onde um outro voluntário falaria mais sobre o processo de receber o mantra. Sentamos eu e mais 3 meninas em um circulo para ler outro folheto. Eu ainda estava com lágrimas nos olhos tentando processar tudo o que estava acontecendo e ao mesmo tempo tentando focar na leitura, quando o voluntário impaciente me reprimiu, sugerindo que eu lesse mais rápido porque as outras meninas já tinham terminado. Aquilo me chateou.

Fui encaminhada para outra fila, onde receberia o mantra. Essa é uma fila secundária, ao lado da fila de quem esta recebendo o abraço. Entre um abraço e outro, a Amma vira para a fila secundária e sussura um mantra no seu ouvido e logo em seguida outro voluntário te tira dali. Aí outra pessoa esta segurando uma caixinha com os mantras escritos e dentre umas 5 opções de mantras diferentes, ele te da uma delas para que você possa memorizar. Todo esse processo me fez questionar algumas coisas. O quão pessoal era esse meu mantra e com base no que a Amma me deu esse mantra, sendo que ela mesma nem me perguntou nada e nem me conhece? Com base no que ela “tomaria responsabilidade” pelo meu crescimento espiritual? Se ela seria minha guru, como eu poderia ter acesso a ela para tirar todas as dúvidas que vão surgir durante toda a minha jornada? Essa última pergunta eu fiz para um dos voluntários, que disse que eu deveria ler os livros dela e tirar minhas dúvidas com os milhares de voluntários que existem nos centros dela espalhados pelo mundo.

A Amma é mesmo a minha guru?

Eu entendo que ela seja uma grande líder espiritual, com milhares e milhares de seguidores e que o processo de receber tanto o abraço quanto o mantra deva ser de alguma forma automatizado para que todos possam ser atendidos de forma mais organizada, mas para mim o processo como um todo pareceu tão superficial que depois de tudo isso eu não consegui sentir uma conexão mais forte com a Amma. Apesar de admirar muito o trabalho dela e ver ela como uma grande mulher, eu não consigo sentir que ela seja a minha guru.

A imagem que eu tenho na minha cabeça de guru é alguém que realmente possa te acompanhar de uma forma mais próxima, alguém que te conheça e que possa te passar os ensinamentos de uma forma mais pessoal. Será que eu estou idealizando o que é a definição de um guru nos dias de hoje? Será que hoje em dia é assim mesmo, você aprende com seu guru sem nem mesmo conhece-lo bem, e nem ele conhecer você, e você aprende apenas lendo seus livros e tirando suas próprias conclusões?

Eu não sei, ainda estou tentando entender como estou me sentindo com relação à isso.

Se você tiver um guru ou conheça alguém que tenha alguma situação parecida, deixa a sua história nos comentários que eu gostaria muito de conversar mais sobre isso com alguém :)

Ps. Todas as fotos foram tiradas do Facebook oficial da Amma porque é proibido tirar fotos no local do evento. 

 

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